segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Politicamete Correto

O CRAVO NÃO BRIGOU COM A ROSA  
Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto.  Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais "O cravo brigou com a rosa". A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo - o homem - e a rosa - a mulher - estimula a violência entre os casais. Na nova letra "o cravo encontrou a rosa/ debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada". 
Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha.  Será que esses doidos sabem que "O cravo brigou com a rosa" faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?
É Villa Lobos, cacete!
Outra música infantil que mudou de letra foi "Samba Lelê". Na versão da minha infância o negócio era o seguinte: 'Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas'. A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do maternal agora ensina assim: 'Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/  Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar'.
Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia para febre não passar nunca. Os amigos sabem de quem é  "Samba Lelê"? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: "Samba Lelê", de Heitor Villa Lobos e Tia Nilda, do Jardim Escola Criança Feliz.
Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil. Ninguém  mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens.
Dia desses alguém [não me lembro exatamente quem se saiu com essa e não procurei a referência no meu babalorixá virtual,  Pai Google da Aruanda] foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos setenta, coisa de viado. Qual é o problema da frase? Ecologia, de fato,  era vista como coisa de viado. Eu imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía, soubesse, em mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho estava militando na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das bromélias ou coisa que o valha. 'Bicha louca', diria o velho.
Vivemos tempos de 'não me toques que eu magôo'. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressão 'coisa de viado' ? Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma tremenda babaquice. O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão 'coisa de viado' não é, nem a pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.
Daqui a pouco só chamaremos o anão - o popular 'pintor de roda-pé' ou 'leão de chácara de baile infantil' - de deficiente vertical. O crioulo - vulgo 'picolé de asfalto' ou 'bola sete' (depende do peso) - só pode ser chamado de afrodescendente. O branquelo - o famoso 'branco azedo' ou 'Omo total' - é um cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente. A mulher feia - aquela que nasceu pelo avesso, a 'soldado do quinto batalhão de artilharia pesada', também conhecida como 'o rascunho do mapa do inferno' - é apenas a dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade. O gordo - outrora conhecido como 'rolha de poço', 'chupeta do Vesúvio', 'Orca, baleia assassina' e 'bujão' - é o cidadão que está fora do peso ideal. O magricela não pode ser chamado de 'morto de fome', 'pau de virar tripa' e 'Olívia Palito'. O careca não é mais o 'aeroporto de mosquito', 'tobogã de piolho' e 'pouca telha'.
Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha necessidades especiais... Não dá. O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil.
O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos gordos na Copa e 2014, disciplinar as manifestações das torcidas de futebol. Ao invés de mandar o juiz para 'putaqueopariu' e o centroavante 'pereba' 'tomar no olho do cú', cantaremos nas arquibancadas o allegro da Nona Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de 'Jesus, alegria dos homens', do velho Bach.
Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice não existe mais. O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso 'pé na cova',  aquele que 'dobrou o Cabo da Boa Esperança', o 'cliente do seguro funeral', o popular 'tá mais pra lá do que pra cá',  já tem motivos para sorrir na beira da sepultura. A velhice agora é simplesmente a "melhor idade".
Se Deus quiser morreremos todos, gozando da mais perfeita saúde. Defuntos? Não. Seremos os 'inquilinos do condomínio Cidade-do-Pé-Junto'.
Luiz Antonio Simas

2 comentários:

  1. Lana, simplismente amei esse post! Aqui no UK eh bem assim: overprotected kids! Como resultado acabam virando "potato adults". Sem senso de humor nenhum, criatividade zero e tedio na vida ha 1000 por hora. Dando um exemplo da falta de criatividade ou pelo menos da falta de velocidade de raciocinio logico das pessoas aqui vou descrever uma situacao.
    Estavamos (eu e alguns amigos no carro) indo ao centro da cidade de Edinburgh e passamos pelo bairro do Haymarket e notei que abriu um novo restaurante japones chamado Hay Sushi. Falei: Nossa que legal outro restaurante japones e o nome eh legal. O pessoal olhou pra mim como se eu fosse um E.T e disse: nome legal? eles estao imitando o YO!Sushi. Eu disse: certamente nao estao pq o conceito do YO!Sushi eh bem diferente desse ai e o nome com certeza nao vem para afrontar o "concorrente" e sim eh uma alusao ao bairro de HAYmarket dai o nome Hay Sushi.
    Nossa, nesse momento foi como uma revelacao, como se eles tivessem visto "Jesus" pela primeira vez na vida. Disseram: Nossa Fabiana eh verdade!!! Como vc eh esperta! (e eu com aquela cara de "serio que vcs nunca notaram isso antes?")

    Onde quero chegar nao eh mostrar quem eh mais esperto ou mais inteligente a questao na verdade sao as limitacoes do politicamente correto podando a criatividade, limitando o raciocinio logico e criando pessoas super sensiveis.
    Afinal de contas o cravo briga com a rosa, a rosa briga com o cravo (acabam e voltam no namroro). O lobo mal comeu a vovozinha (chegado em mulheres maduras ora!). A bela adormecida tomou um "boa noite cinderela" e nem viu que beijou o sapo errado.

    As pessoas tem o direito de descobrir e ter opiniao propria... chega de encobrir as historias, chega de softplay area. Meu filho(a) vai saber que atiraram o pau no gato (e que ele nao morreu), que o sapo nao lava o pe e que ele tem chule e por ai vai :)

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  2. Muito bom! AEIUHIUEAHEUAI

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